PAIVA BRASIL – “LÚDICOS”

Galeria Patrícia Costa presta homenagem póstuma ao artista, em exposição que abre no dia 1º de setembro

Paiva Brasil trabalhando

Sintéticas e eloquentes, as obras mais recentes produzidas por Paiva Brasil, durante os últimos dois anos em que ficou isolado em seu atelier, foram reduzidas a poucas formas e a poucas cores, trazendo a síntese dos seus trabalhos de longos anos, buscando a simplicidade e a delicadeza na geometria com o máximo de expressão. São 22 quadros-objetos, a maioria deles em pequenos formatos, todos constituídos de módulos coloridos que se acoplam, como num jogo de armar e desarmar, soltos no espaço, como pequenas pipas, que anseiam por voar.

Ao longo de seus 65 anos de carreira, Paiva Brasil desenvolveu um trabalho singular, onde se pode ressaltar a economia de elementos, as curvas e as retas, tirando desses elementos o máximo de possibilidades lúdicas. Com esses trabalhos realizou várias exposições individuais, e inúmeras exposições coletivas, obtendo vários prêmios. Suas obras fazem parte de grandes coleções, tais como a de Gilberto Chateaubriand, Museu Nacional de Belas Artes, MAM de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, dentre outros.

Vermelhos – 80x98cm-2021_foto Jaime Acioli
vermelho, azul, verde e roxo – 40x81cm.- 2021

Sobre esses últimos trabalhos, todos inéditos, apresentados nesta exposição na Galeria Patrícia Costa, são ressaltados pelo curador Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho a essência “lúdica” da obra de Paiva Brasil:

Em 70 anos de pintura o artista Paiva Brasil nunca deixou de surpreender, seja pela delicadeza de suas formas, seja por suas inusitadas combinações e justaposições de cores. Originário de nossa primeira geração construtiva do Brasil, aluno de Samson Flexor e Santa Rosa, frequentador   dos cursos de pintura no Museu Arte Moderna do Rio de Janeiro e desenho no Liceu de Artes e Ofícios na década de 1950, Paiva construiu um léxico próprio, independente, sem se filiar a grupos ou instituições. Elaborou uma obra ímpar onde, além da ressignificação das palavras e dos números, em especial sua “Homage” ao algarismo cinco, produziu objetos interativos e articulados como seus “Vertebrados”. Ao espectador sempre reservou o direito da escolha, a opção de manipular, ora no exercício do olhar, ora na ação táctil. Permitiu que sua criação fluísse junto ao desejo de quem observa e contempla.

Na presente exposição, suas Tangentes – reveladas a partir de 2014, e posteriormente exibidas na grande retrospectiva no Paço Imperial de 2019 –  nos levam mais uma vez ao mundo do divertimento e das múltiplas possibilidades do fazer.  Entre encaixes, montagens, semicírculos, planos justapostos, espaços vazados e experimentos de cor, sua artesania exalta não apenas o belo, mas um “alfabeto concreto”, livre de preceitos, aberto ao novo. Nas paredes as obras não precisam de uma ordem definida, cabendo ao observador decidir, quase como um gesto, o deslocamento necessário. Seu construtivismo lúdico permite que o manejo desses “objetos de cor” se alinhem com a perspectiva de jogo. O Jocus do prazer, do entretenimento, do sutil, com a delicadeza do compartilhar, sem alusão a um pódio que exija a vitória ou o êxito. Sua proposta sempre foi agregar, brincar, e menos competir. 

Nos últimos três anos Paiva produziu isolado em seu ateliê. Em decorrência da crise sanitária limitou sua ação aos materiais e objetos que dispunha, sem que isso representasse uma intimidação ou restrição ao seu espírito criativo. Combateu o desalento que nos cercava com obra potente e convidativa ao prazer. Pintou e produziu com alegria, novamente brincou e jogou com os elementos que sempre dominou. Não queria explicar, mas realizar o que lhe era inescapável: a arte e uma existência plena de beleza.

Esta última série de Tangentes nos aponta para uma infinidade de questões. Talvez, quem sabe, aquilo que o romântico alemão Schiller almejasse como uma educação estética. Paiva não pintou o óbvio. Produziu para que pudéssemos refletir, provocando nossos sentidos e sensações. 

Fica aqui mais uma vez a admiração e o elogio a um homem que soube explorar e brincar talentosamente com as formas, mas que nunca esqueceu que a essência de tudo é a humanidade e a alegria de viver.

Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho

Agosto de 2022

Saiba mais sobre Paiva Brasil

Discreto e sensitivo, nascido em Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, Paiva faz parte, por tradição e direito, de nossa primeira geração construtivista. Ainda que não estando vinculado formalmente a nenhum dos movimentos abstrato-geométricos, poderia ter-se filiado ao Grupo Frente na tradição de Rubem Ludolf, João José ou Décio Vieira. Entre o final dos anos 1940 início dos anos 1950 estudou no Liceu de Artes e Ofícios. Posteriormente, dedicou-se ao desenho e à composição gráfica com Santa Rosa e pintura com Samson Flexor, professor do Museu de Arte de São Paulo, pioneiro do Atelier Abstração, primeiro grupo de arte geométrica do país.

Participante de Bienais e diversos Salões Nacionais, dentre os quais se destaca o III Salão Nacional de Arte Moderna (salão Branco e Preto), premiado com viagem ao exterior no I Salão Nacional de Artes Plásticas (Rio de Janeiro), Paiva desenvolveu um léxico próprio e consistente. Sem ser adepto de um evolucionismo fácil, construiu um caminho onde sugere muitas possibilidades. Com elegância transmutou a forma, elegeu cores.

Serviço

“Lúdicos” – Paiva Brasil

Curadoria: Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho

Abertura: 1º de setembro, das 17h às 21h

Visitação: de 2 de setembro a 1º de outubro de 2022

Funcionamento: de segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 17h

Local: Galeria Patricia Costa

Endereço: Av. Atlântica, 4.240/lojas 224 e 225 – Copacabana – RJ

Telefone: +55 21 2227-6929/98868-1993

Classificação livre

Entrada franca

Contatos:

www.galeriapatriciacosta.com.br/@galeriapatriciacosta

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