A HISTÓRIA DO FOGÃO – A Invenção da Cozinha Moderna

Chegou tarde do trabalho, cheio de fome, direto para a mesa: arroz, feijão, bife e batatas fritas, sua comida favorita, que beleza! É sentar e comer.
Depois um belo banho e cair na frente da TV.
Lógico que você sabe como aquilo é feito na sua casa, afinal na sua cozinha tem um fogão.
Mas e o fogão?

Nunca parou para pensar nele, não é?
O gás obtido a partir de carvão passou a ser utilizado para a iluminação pública em 1810, mas apenas em 1826 James Sharp criou um fogão a gás para uso próprio, que depois patenteou e começou a produzir em 1836.
Porém, foi Alexis Benoist Soyer, um chefe de cozinha francês radicado na Inglaterra que popularizou seu uso na cozinha, afirmando ser mais econômico e limpo, pois podia ser ligado apenas para a confecção dos alimentos, sendo desligado em seguida, além de não emitir fumaça.

Soyer nasceu em 1810 e mudou-se para a Inglaterra em 1830. Em 1837, tornou-se o chefe de cozinha do Reform Club, em Londres, clube de cavalheiros localizado no centro da cidade e com vários membros ilustres.
Nessa época, a sede do clube estava de mudança para outro local ainda em construção e Soyer teve carta branca para desenhar a cozinha.
Ele criou uma maravilha de ergonomia e tecnologia. Introduziu os fogões a gás, refrigeradores a água fria e fornos com temperatura ajustáveis.
Uma máquina a vapor bombeava água, aquecia os banho-marias, movia os elevadores de carga e os ventiladores.

Além de tudo, era extremamente eficiente. No dia da coroação da Rainha Victoria, o Clube serviu café da manhã para 2000 pessoas.
Na época, o uso do gás era temido pelas pessoas e Soyer demonstrou não apenas sua eficiência, mas sua segurança. Além disso, seus fornos com temperaturas ajustáveis, permitiram que pessoas comuns pudessem cozinhar de forma mais apurada, criando dentro de suas casas as delícias que só conseguiam comer nas confeitarias ou restaurantes da cidade, tornando mais acessível a arte de cozinhar.

Sua cozinha ficou tão famosa que foi aberta á visitação pública. Dizem que durante um tempo foi a segunda atração mais visitada em Londres, atrás apenas do Museu de Madame Tussaud. Soyer também inventava implementos culinários e entre eles está o primeiro fogão doméstico a gás, que chamou de “Aparelho Moderno de Cozinhar” ou Phidomageireion, que traduzido livremente significa cozinha econômica (ele tinha uma queda por nomes gregos). Ele podia assar, cozer, grelhar, fritar, fazer bolos, para até 70 pessoas em uma única sessão, de forma econômica já em 1851.

Soyer tinha uma preocupação social incomum para os chefes de cozinha da época. Convidado em 1847 para reavaliar as cozinhas públicas durante a Grande Fome que assolou a Irlanda de 1845 a 1849, ele usou seus métodos para criar novas estruturas que foram produzidas e enviadas para aquele país, produzindo com eficiência milhões de refeições e salvando inúmeras vidas.
Ele argumentava que a ineficiência das cozinhas então existentes se devia a incapacidade dos fogões gerarem calor suficiente para o cozimento ideal dos alimentos. Com base nisso, desenhou um fogão portátil que foi chamado de Fogão Mágico. Este fogão foi produzido em massa com grande sucesso, alimentando milhares de pessoas no Reino Unido e na Irlanda, durante a Grande Fome, sendo depois vendido para uso doméstico.
Preocupado com a alimentação dos soldados, não se negou a estudar uma forma de melhorar a alimentação dos mesmos durante a Guerra da Crimeia, inventando um forno de campanha que além de fazer pouca fumaça, permitia que se cozinhasse muitas refeições rapidamente. Também orientou os cozinheiros sobre como melhor aproveitar as rações enviadas, salvando muitas vidas. Com modernizações, esse equipamento foi utilizado até o século XX.
O fogão ainda levaria anos para ser aperfeiçoado, sendo esmaltado para facilitar sua limpeza, ganhando o acendedor elétrico, superfície de inox, e muitas outras facilidades, mas sem Soyer para popularizar o uso do gás de cozinha, o que estaríamos usando hoje no seu lugar?

Renato Marandino

Médico especializado em Clínica Médica e Medicina do Trabalho